sexta-feira, 22 de abril de 2011

Resenha: Administração, poder e ideologia

“Cada vez que na área do político sois chamados de 'meus filhos', a esfera de vossos direitos políticos desaparece.” Maurício Tragtenberg (1929-1998)

Editora: UNESP
Edição: 3ª edição revista, 2005
Sobre o autor: Maurício Tragtenberg (1929-1998) – descendente de imigrantes judeus, foi filiado ao PCB, de onde foi expulso por suas leituras das obras de Leon Trótski. Socialista libertário e autodidata, conseguiu habilitação para prestar vestibular na USP sem ter o primário concluído pela aceitação do ensaio Planificação - Desafio do século XX, sendo aprovado no curso de Ciências Sociais e, posteriormente, no curso de História. Doutor em Política pela USP, título adquirido durante a Ditadura Militar, foi professor de graduação e pós-graduação na PUC/SP, USP, UNICAMP e da EAESP-FGV. Crítico da burocracia acadêmica, foi um dos precursores do estudo da pedagogia libertária no Brasil. Manteve durante vários anos a coluna No Batente para o Jornal Notícias Populares, de São Paulo, além de ter publicado 8 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país.
Preço: entre R$ 28,80 e R$ 32,00.
Analisando as teorias e práticas administrativas, Tragtenberg apresenta em Administração, poder e ideologia, publicado pela primeira vez em 1976, uma análise de como as organizações se estruturam para assegurarem a harmonia entre seus interesses e os interesses dos trabalhadores, anulando o indivíduo no mundo industrial para assegurar o alcance e o aumento progressivo do lucro. Dividido em 4 capítulos (A ideologia administrativa das grandes corporações; A cogestão e o participacionismo ou "Alice no país das maravilhas"; Exploração do trabalho I; e Exploração do trabalho II), além da Conclusão, o livro demonstra que, na indústria moderna, a liberdade é substituída pela unidade de comando e nesse cenário as relações se dão sob a forma de negociação.
A obra apresenta como se deu o início da escola participacionista na Alemanha, França e Bélgica, e atenta para o fato de que a corporação concentra poder econômico semelhante a um partido político ou à Igreja católica, detendo a hegemonia na sociedade industrial. Analisando o pensamento de Peter Druker, Adolf Berle e outros pensadores das organizações do século XX, Tragtenberg destacou a luta de poder entre trabalho e gerência, escondida sob a manifestação de reivindicação salarial, tornando necessária a neutralização do elemento causador do conflito.
Outro grande obstáculo a ser superado é a participação operária nas decisões da empresa, pois, de acordo com a obra, as organizações buscam mecanismos para evitar que o trabalho usurpe as funções de poder gerencial legitimadas, tornando, segundo Tragtenberg, a corporação cada vez mais antissocial e privatista.
No decorrer da obra, Tragtenberg apresenta o caráter sagrado do chefe, a impessoalidade da organização e a subentendida concepção individualista como fatores marcantes na estrutura hierárquica empresarial. E essas relações hierárquicas utilizam conceitos mecanicistas como forma de evitar colapsos, reduzindo o subordinado à dependência do saber e do poder, da mesma forma como se dá a relação educacional, onde o aluno se ver como ator passivo no cenário que a escola representa.
De acordo com a obra, “relações humanas” é um engodo escondido por trás do diálogo e da participação, que permite à empresa agir sobre indivíduos e grupos para provocar neles as atitudes que lhe convêm, sendo, portanto, simplificadora e idealista, manipuladora e realista, constituindo novo recurso para alcance de maior produtividade do trabalhador.
Nesse ponto, é apresentado o contexto histórico da origem das relações humanas, difusora da não-diretividade, da pedagogia da direção, da solução de conflitos, e da tomada de decisão. Preocupada com a dominação de conflitos, as relações humanas se institucionalizam com a pregação do uso da diplomacia, em detrimento do autoritarismo, nas relações entre capital e trabalho, surgindo, assim, na década de 1950, a humanização do trabalho (França), a humanização na empresa (Itália), e as técnicas de cogestão (Alemanha).


“ceder um pouco de poder aos trabalhadores
pode ser um dos melhores meios de aumentar sua sujeição,
se essa lhes dá a impressão de influir sobre as coisas
(David Jenkins – Job power, Nova York, 1973, p.319-20)”



Tragtenberg concebe a empresa como produtora de excedente de trabalho onde se manifesta a oposição de classes, mas também como aparelho ideológico que extrai do trabalhador aquilo que é mais do que necessário para maior lucratividade. Nesse sentido, o trabalhador se apresenta como apático politicamente, pois o poder da organização fragmenta as classes sociais em indivíduos.
Logo, após o autor apresentar práticas aplicadas em empresas estadunidenses e brasileiras, conclui que o objetivo da organização moderna com o uso das práticas próprias das relações humanas é manipular a mão-de-obra, ocultando conflitos no nível político, para garantir a não divisão do poder. Assim, a obra demonstra que a cogestão e as práticas participativas permitem, além das manipulações patronais, a garantia da paz e da harmonia social e a mutação da sociedade por meio da empresa.

“(...) pagar o mais baixo possível numa organização é pagar com status
(Maurício Tragtenberg)

2 comentários:

Jéssica Souza disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Amarildo Ferreira disse...

O Tragtenberg é mto foda! Além de ser um grande crítico das corporações, também foi um grande educador e crítico desse sistema educacional que coloca o aluno como mero coadjuvante do ensino. Sem falar que o cara era autodidata!

Ps.: Já era hora de me seguir!

Fora, Temer!